Foto: Lula Marques/ Agência PT
Acusado
pela Procuradoria Geral da República de ter recebido pelo menos US$ 5
milhões em propina do esquema de corrupção na Petrobras, o presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vai alegar em sua defesa no Conselho
de Ética da Casa que desconhecia a origem do depósito de 1,3 milhão de
francos suíços feitos em 2011 em um fundo do deputado na Suíça e que
todo o dinheiro que tem fora do país é fruto de venda de carne enlatada
para a África e de operações no mercado financeiro. Pelo que apurou a
reportagem, ele dirá que "não reconhece" como seu o montante depositado
"à sua revelia" em 2011 pelo lobista João Henriques, que era ligado ao
PMDB e foi preso na Operação Lava Jato. O deputado suspeita, porém, que o
depósito seria o pagamento de um empréstimo feito por ele ao
ex-deputado Fernando Diniz, do PMDB, que morreu em 2009. Em depoimento à
Polícia Federal, Henriques disse que enviou o dinheiro a pedido do
economista Felipe Diniz, filho do ex-deputado, e que não sabia quem era o
beneficiário. Em 2007, primeiro ano do segundo mandato de Luiz Inácio
Lula da Silva, Cunha e Diniz eram muito amigos e integravam o núcleo
duro do PMDB na Câmara. Nesse período, Diniz teria perdido muito
dinheiro em negócios fora do país e por isso pediu ajuda. Cunha fez
então um empréstimo de US$ 1,5 milhão para o colega. A dívida teria,
segundo o deputado, "morrido junto com Diniz". A principal linha de
defesa de Cunha será que todo o recurso no exterior é fruto de atividade
de operações financeiras feitas nos anos 80, antes do começo de sua
vida pública, quando ele descobriu a oportunidade de vender carne
enlatada em consignação para países africanos. Para escapar da cassação
de seu mandato no Conselho de Ética da Câmara por falta de decoro
parlamentar por ter supostamente mentido durante depoimento na CPI da
Petrobras em março, quando afirmou que não tinha recursos depositados
naquele país ou em algum paraíso fiscal, o presidente da Câmara afirmará
que não possui contas correntes, mas dois Trust - entrega de um bem ou
um valor a uma instituição (fiduciário) para que seja administrado em
favor do depositante ou de outra pessoa por ele indicada
(beneficiário). O deputado afirma que não houve depósito, só saída e
rendimento de aplicações.